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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

INCLUSÃO ≠ INTEGRAÇÃO

Colocar uma colher de azeite em um copo de água é incluir azeite à água. Nem que se aqueça o conteúdo desse vasilhame, na intenção de dissolvê-los, não obteremos o resultado desejado. Por mais que se tente misturá-los através de vários processos físicos e mecânicos, não haverá homogeneização deles entre si. No entanto, sabemos que o azeite faz bem à saúde, ainda mais se for de origem orgânica e voltado para o consumo, isto é, possível de se transformar e ser absorvido pelo organismo. Fora isso, é ainda mais valioso que a água em termos econômicos. Incluir é uma tarefa laboriosa e, talvez, impossível de ser realizada se tratarmos de estruturas e naturezas heterogêneas e singulares, ainda que sejam líquidas.
Na educação, as políticas atuais de inclusão – observação partilhada com vários teóricos do meio em diversas fontes midiáticas – proporcionaram verdadeiras truculências com direitos individuais de muitos dos estudantes ditos “especiais”; porque se vivemos num estado “democrático de direito”, o sentido de igualdade fica à mercê da máxima dos tempos modernos da política: uns são mais iguais que outros. Se existem “especiais” é porque outros não o são. No entanto, se são “diferentes”, por que não se pode associá-los instantaneamente às demais classes “normais” da educação básica?
Talvez fôra esse indício paradoxal, no tema que leva em consideração bases políticas elementares e a ética educacional, que motivou a criação de um estratagema de conciliação entre os iguais/diferentes e os diferentes/iguais: a conciliação morou no verbo “incluir”. Incluir, que em sua raiz verbal demonstra uma descompromissada atitude de despejar num mesmo antro, elementos possíveis ou não de associação – sem considerar temporalidade, natureza e efeitos adversos – como se fossem os nossos alunos, meros componentes químicos manipulados num tubo de ensaio chamado escola. O ato de incluir pressupõe que elementos distintos estavam afastados, alheios uns dos outros, em lugares – ou recipientes – diferentes. A rigor, a escola não deve servir de tubo de ensaio para facilitar as manobras econômicas e otimizações protocolares de cunho meramente administrativo, somente porque é economicamente inviável atender uma minoria. O simples fato de se tornar oneroso dispor de agentes educacionais preparados para uma missão que não traz vantagens políticas para o estado, isso porque muitos alunos são incapazes de poder manifestar sua opinião e discuti-la no modelo formal instituído, acarreta desinteresse das classes dominantes para atender demandas laborais tão especiais e dispendiosas. A escola deve ser o centro de experienciação para a vida cidadã, cujo enfoque fica na democratização do conhecimento e dos meios de desenvolvimento do ser humano, tanto em sua natureza individual quanto coletiva: isso abre um leque de possibilidades multidisciplinares que deverão ser atendidas, pois as prerrogativas do professor são a de ser ético com o compromisso de educar, e isso demanda entender as possibilidades e potencialidades dos alunos, no coletivo, bem como de si próprio.
Para que esse ato – que transcende o conhecimento para sabedoria – possa tornar-se constituído no meio educacional/escolar, não poder-se-ia aceitar de forma alguma o conceito de “aluno especial”, “aluno com necessidades especiais”, “aluno com déficit educacional”, etc. Tal movimento agride o senso de democracia/igualitária, ou igualdade/democrática. Pois o paradoxo é reacendido e torna a implicar em discussão, como se a Sina de Sísifo o fosse.
A sugestão proposta é radicada no termo que deve ser primo da “inclusão”: a integração. Através de agentes catalisadores, capacitados para entender as propostas e lógicas de diversas demandas educacionais e culturais, voltados para conectar as diferenças entre os elementos e reforçar as ligações sociais de alunos em/com suas dificuldades, independentes se “mais especiais” ou “menos especiais”, são elementos substanciais do termo “integração”. Uma vez que o verbo “integrar” cria a necessidade de conjugar diferenças sem as aborrecer, implantar soluções com um questionamento minimizado, desobstruir os meios de informação entre as distâncias do “normal” e o “especial”, focaliza nem um nem outro, mas sim, o respeito pelo e entre os dois, fazendo-os entendidos como adjetivos de cada um de nossos discentes, sem distinção.
Talvez tenha sido essa qualidade verbal maquiada para o entendimento de “inclusão”. Sendo assim, a política que está em vigor está sendo desenvolvida perfeitamente. No entanto, se nós, como docentes responsáveis pela qualificação e formação educacional de gerações vindouras, nos confundirmos com os termos e continuar a defender o “inclusionismo/inclusivismo” – gerador perceptível de “exclusionismo” e impessoalidade, construiremos sem perceber, obstáculos perpétuos para a principal ação educadora de um professor, a de integrar e buscar a integridade de seus educandos através de seus próprios conhecimentos e potencialidades coletivas e individuais.

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